[Em Cima do Lance com Paulo Leandro] Ave, Baloteli, o afroCesar da nova Azzurra



Ave, Baloteli, o afroCesar da nova Azzurra


Por Paulo Leandro

Democracia quantitativa pode ser mesmo muito perigosa e até injusta pois não necessariamente a maioria está com a verdade. Na Eurocopa do facebook mesmo, a Alemanha era franca favorita diante da Itália numa proporção de cinco ou seis para um e perdeu.

José de Jesus Barreto, João Paulo Costa, Florisvaldo Matos, Adriano Villela e Moisés Cardoso declararam-se alemães. Hagamenon Brito desta vez não se manifestou talvez porque nem precise dizer o quanto se deixa encarnar pelo gênio de Podolski.

No entanto, quem foi ver a visão de jogo da Ozil, espantou-se com a capacidade de ordenar o jogo de Pirlo. E quem fazia fé em Mário Gomes, teve mesmo foi de exclamar Baloteli!, o nome do clássico que absurdamente chamei de anticlássico no dia anterior.

No rádio, seria queimar a língua, em internet seria deletar os arquivos, ou queimar o HD, talvez a placa-mãe nos casos mais extremos. Estabeleci esta alcunha com base no histórico de títulos mundiais conquistados em relação aos contextos de cada época, política e futebolística.

O perdão, no entanto, existe para se dizer. Pelo futebol que a Itália jogou ontem, está no caminho de se redimir e tornar-se, dignamente, uma campeã da Europa. É uma nova Azzurra, capaz de entusiasmar mesmo quem foi ver a vitória da Alemanha e acabou curtindo Baloteli.

PRECISÃO
Meu caro bamba, prof. Mahomed, postou logo após a partida, alguns conteúdos repercutindo o sucesso de Baloteli, um tipo difícil fora de campo, talvez por suas peculiaridades culturais nem sempre decodificadas por outras culturas dentro da seleção.

Uma seleção que mostrou, desde o inicio, um antigo amor à pátria que não duvido ter mexido com a Itália ancestral, ainda na Roma dos césares e das legiões. Dir-se-ia cada jogador da Azzurra um legionário com a novidade de ter trocado a velha armadura pesada por uma mais leve.

A Itália fechada atrás, com capitão Bufon pegando tudo e organizando o baba. Uma Itália multicor, azul da Casa Oficial, verde-branco-vermelha da bandeira nacional, e agora, também, por que não registrar, preta, preta, pretinha da afrodescendência do hulk Baloteli.

No primeiro gol louve-se Cassano, o heroi que poderia, sem exagero, ser citado por Homero na Ilíada. O cara que já sofreu um AVC limpou o lance com uma categoria que dir-se-ia um brasileiro ou argentino. Passou pelos marcadores alemães fazendo cafuné na bola.

O cruzamento, alguém na sala falou, acho que Juscelino, veio com a bola rodando, já no tempero, sazón, arisco, sal grosso, a pimentinha... além do veneninho pronto, por causa do efeito da trivela: a bola de Cassano, amigos leitores, foi um primor de precisão.

TREMENDO
Era só cumprimentar Neur. E Baloteli assim o fez. Era o gol da Itália em um momento do jogo que a Alemanha tinha mais posse de bola e já esboçava algumas escapadas para superar a timidez de não chutar a gol.

Neste primeiro gol de cabeça, ele preferiu calar-se e sequer vibrou direito. Parecia querer mostrar que sabia algo a alguém. Parecia querer aproveitar o momento de sucesso para dizer que é possível, sim, ser o titular da seleção do país que um dia invadiu um país negro.

Quem curte Edson Gomes, lembra daquele hit que o regueman baiano canta sobre a Etiópia: “quando Mussolini invadiu a Etiópia, foi um rolo compressor, esmagador...” O futebol supera, assim, através da seleção, o efeito de um rastro histórico lamentável, mais um, na segunda guerra.

Mas que tem a ver Mussolini com Baloteli? Nada não. O fato é que, hoje, se pode temer, sim a seleção dos legionários porque ela tornou-se mais leve, mais rápida e porque ela tem um cruel matador, que sabe ajeitar a menina e mandar um cometa, como o segundo gol.

Quantos quilômetros por hora viajou a bola de Baloteli até se aninhar no fundo dos cordéis de Neuer e dar aquele efeito bonito da rede toda se tremendo, como num frêmito de prazer, ao ser balançada com aquela intensidade e amor à pátria italiana.

CICIOLINA
Antes de a bola rolar, percebeu-se, os mais observadores, que havia algo diferente na vibração dos italianos, no momento da execução do hino. Ali, não eram só jogadores, repito, mas o espírito das melhores legiões de Roma e sua absoluta dedicação ao sucesso do grande império.

A Alemanha, por sua vez, jogava na Polônia, por ali mesmo onde decidiu-se invadir para dar início à segunda guerra. Nem parecia, claro, pois está tudo superado, embora jamais possa ser esquecido, como uma cicatriz que não se permite apagar a marca.

Ah! Esqueci de me dar aquela valorizadinha. Só o Besta estava fechado com a Itália, mais por uma aversão injustificável a Alemanha, uma vez que o futebol germânico melhorou muito nos últimos anos, como acertadamente defenderam Hagamenon e João Paulo.

E, agora, sem dúvida, sou Itália, novo paradigma, seleção temperada, que deixou de ser só aquela retranca, herdeira do catenacio, para sair em contra-ataques esporádicos. Agora, a Azzurra tem uma nova cara, a cara de um hulk que destoa do grupo e ao mesmo tempo o complementa.

O futebol tem uma nova oportunidade. Ao tico-tico espanhol, cuja obrigação primeira é defender-se e garantir a posse da bola, para só então atacar, vamos oferecer a resistência da passionalidade, da vibração excessiva, da forza Itália.

Será domingo a grande final e Baloteli vai jogar. O horário é 3 e tanto, confirme a fração certinha com uma fonte mais confiável pra marcar hora e não deixe que nada o impeça de ver este grande jogo. A transmissão da Band, com os polêmicos assumidos Neto e/ou Edmundo é melhor que a da Globo com o corretíssimo Júnior.

Vamos conferir se os legionários vão conquistar Madri e expandir seu império, ou se os espanhóis marcharão sobre Roma e levarão consigo as melhores italianas, e aqui vai uma menção honrosa que sempre quis fazer a Ciciolina.

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