Games e exercícios são apostas para evitar os sintomas do mal de Alzheimer

O estudo está sendo coordenado pelo neurocientista da UFRJ Rogério Panizzutti, com cerca de 20 participantes, todos idosos e sadios, sendo que alguns apresentam declínio cognitivo leve, mas sem diagnóstico de Alzheimer. O objetivo é comprovar a eficácia do treinamento cognitivo computadorizado na prevenção dos sintomas da demência, além de indicar possíveis “dosagens” de treinamento, apontando o número de sessões e a ordem dos exercícios mais eficazes.

— No momento, estamos buscando evidências científicas para pleitear uma aprovação terapêutica de órgãos reguladores, como a FDA. Hoje, o treinamento cognitivo funciona como promotor da saúde, não como tratamento — diz Panizzutti. — É como uma academia de ginástica, só que para o cérebro.
Setembro é o Mês Mundial do Alzheimer — dia 21 é o dia em que se comemora a luta contra a doença — que visa alertar a população sobre a enfermidade que afeta a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. De acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), 47,5 milhões de pessoas convivem com algum tipo de demência, sendo que o Alzheimer é responsável por cerca de 70% dos casos.
AGILIDADE DE PENSAMENTO
As especulações em torno do efeito positivo do treinamento cognitivo com uso de jogos eletrônicos na prevenção do Alzheimer são antigas, mas eram de poucas a inexistentes as evidências científicas. Há dois anos, um documento assinado por mais de 70 pesquisadores das mais renomadas universidades do mundo se opôs “à afirmação de que jogos cerebrais oferecem aos consumidores um caminho cientificamente fundamentado para reduzir ou reverter o declínio cognitivo”.

Em julho deste ano, durante o encontro anual da Alzheimer’s Association, em Toronto, no Canadá, foi apresentado o primeiro estudo em grande escala e de longo prazo com evidências convincentes de que, sim, o treinamento cognitivo com jogos eletrônicos é capaz de reduzir os riscos de desenvolvimento de demência.

— Sim, nós podemos dizer que o treinamento cognitivo pode retardar o desenvolvimento dos sintomas da demência. Evitar, eu não diria, mas mostramos que é possível atenuar o declínio cognitivo — explica Jerri Edwards, professora de Estudos do Envelhecimento na Universidade do Sul da Flórida, em Tampa, na Flórida.

A pesquisa ACTIVE (Advanced Cognitive Training for Independent and VitalElderly) foi realizada com 2.832 participantes, com idades entre 65 e 94 anos, recrutados em 1998. Eles foram divididos aleatoriamente em quatro grupos, sendo um de controle, dois com oficinas em sala de aula sobre como melhorar a memória e, o último, com treinamento cognitivo com uso de computador, especificamente com um exercício conhecido como “speed of processing” (velocidade de processamento), sendo que uma parcela recebeu sessões adicionais.

Uma década depois, os pesquisadores mantiveram contato com praticamente todos os participantes, com exceção de 47. Mais de 300 participantes desenvolveram demência durante esse período, mas as taxas variaram bastante entre os grupos. No controle, o percentual foi de 14% — menos de metade da taxa média para americanos na casa dos 80 anos, o que era esperado, pois os participantes eram sadios no início do experimento —, e entre os que realizaram o treinamento cognitivo o índice foi ligeiramente menor, de 12,1%. Mas entre os que receberam sessões adicionais, a taxa foi de apenas 8,2%.

— O que nós demonstramos foi que os que completaram 11 ou mais sessões de treinamento reduziram o risco do desenvolvimento de demência em 48% no período de dez anos — diz Jerri. — Eu acredito que esse treinamento é eficaz porque incentiva os participantes a recuperarem a agilidade no pensamento, a velocidade que perderam naturalmente com o avançar da idade.
Dulcinéa e as colegas Marluça da Costa, de 84 anos, e Hayde Brasileiro, de 71, confirmam essa melhoria observada por Jerri. Lúcidas e ativas, elas ressaltam a importância de exercitar a mente, conscientes das perdas com o avançar da idade.

— Para a perna, a gente usa muleta; para o braço, usa o outro braço, mas para a cabeça não tem jeito. Precisa cuidar, porque é ela que coordena todo o resto — diz a sorridente Dulcinéa.
Valesca Marinho, do Departamento de Psicogeriatria da Associação Brasileira de Psiquiatria, concorda com a importância de se manter o cérebro ativo. Segundo ela, a ideia é “ganhar tempo”, fazer com que o mal chegue mais tarde à vida das pessoas.

Apesar dos avanços nas pesquisas, ainda não existe cura para a doença, só formas de reduzir os riscos. A primeira recomendação é seguir a receita de que o que faz bem para o coração, faz bem para o cérebro. Praticar exercícios físicos, abandonar o cigarro e manter uma alimentação saudável melhoram a capacidade vascular, inclusive no cérebro. Cuidar do sono e tratar distúrbios psicológicos ajudam a retardar o declínio cognitivo.

— Se não for possível fazer esses treinamentos no computador, as pessoas podem ler, jogar cartas, dominó... Realizar atividades que ponham o cérebro em movimento de forma prazerosa.

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