[Testemunha Ocular da História] Beijoca e Catimba, ídolos de pontaria e língua afiadas, vão para a dividida

Do Correio*

Os pontapés na bola e nos adversários, a torcida não esquece. Na década de 1970, Beijoca, pelo Bahia, e André Catimba, pelo Vitória, eram certeza de confusão no campo e alegria na arquibancada.

Hoje bons amigos, os dois assistiram na beira do campo o Super Desafio de Natal, jogo amistoso realizado em Pituaçu, acompanhados ainda pelo ex-meia Hugo, outro rubro-negro, e por Osni, craque e campeão pela dupla Ba-Vi.

No gramado, havia feras de diferentes épocas, como o goleiro Dida, penta Mundial, e Neymar, esperança para 2014; de nacionalidades variadas, como o colombiano Rincón; e até Marta, a rainha do futebol feminino. Mas ninguém foi capaz de saciar o apetite de André Catimba.

“Dá vontade de entrar em campo e jogar, porque hoje não estão jogando nada (risos). Na nossa época, o futebol era mais agressivo, mais alegre e contente. Hoje, é mais financeiro”, diferencia Catimba, de olho no campo, mas com a mente resgatando o que viu no último Brasileiro.

Camisa 9Segundo maior artilheiro do Vitória na história do Brasileiro, com 31 gols entre 1972 e 1975, o atacante reclama principalmente de quem veste a camisa 9, sua maior especialidade.

“Hoje está difícil apontar um centroavante bom. Tá difícil mesmo. No ritmo do futebol brasileiro, você já perdeu o ponta direita e o ponta esquerda e até o centroavante está acabando”, diz, visivelmente retado da vida.

Beijoca, outro camisa 9 fiel às redes, concorda: “Nós temos jogadores que, sinceramente, não se comparam aos de nossa época. E não estou querendo puxar-saco. Mas, tecnicamente, os jogadores de antes eram melhores. Hoje, talvez se eu jogasse com um Neymar na frente encaixasse bem”, crava, sem medo da dividida, assim como fazia na grande área da Fonte, e admitindo uma saudade de ver alguém como Osni.

“Osni era um jogador de lado de campo. Hoje dizem que é moderno ter esse jogador, mas na nossa época já tinha. Osni era o quê? Ponta? Não era ponta. Era de beirada e ainda fazia a meia. Hoje, o jogador é específico. Muitos atacantes não saem nem pra dominar uma bola. Aliás, tem uns que nem correr e quem dirá jogar”, comenta Beijoca.

Sabedoria Ao trazer o debate do matador para a realidade do Bahia, Beijoca não vacila. “A gente tem vontade de entrar em campo, como disse Catimba, até porque Souza é hostilizado pela torcida. Ele não encaixou ainda e não conquistou a confiança da torcida, mas eu sou suspeito em falar”, pondera, pedindo calma com o “herdeiro”, ainda sem renovar contrato para 2012.

“Eu queria que Souza fizesse os gols e, se ele continuar, que Deus abençoe. Eu torço pelo Bahia e, para o Bahia ganhar, eu torço por ele. Mas, lógico que a imprensa e a torcida fazem críticas. Para Souza se dar bem, ele precisa ganhar a confiança da torcida com gols e dedicação”, ensina.

Já para o rubro-negro Neto Baiano emplacar de vez, André Catimba dá a dica: “Você tem que trabalhar certo, correr bastante, fazer gol e sair aplaudido. Se não dá para fazer tudo isso, pelo menos alguma coisa tem que fazer”, emenda. “Tem dia que é difícil”.

Alerta  Para Catimba, porém, mais difícil ainda é engolir os erros que fizeram o Vitória seguir na Série B. “Faltou competência e profissionalismo, tanto no futebol como na administração. Tem pessoas que pensam que jogam mais futebol que a gente que esteve no campo”, lamenta, com experiência de ser um dos três rubro-negros campeões do estadual como técnico e jogador - os outros são Arthurzinho e Agnaldo Liz.

“Dentro de campo, é um futebol. Fora, é outro. Fora de campo tem um bocado de Pelé jogando. Agora, dentro, não tem um André”, finaliza, caindo no riso e desafiando o amigo Beijoca a subir os mais de 100 degraus da escada que liga o campo à área onde está a Tribuna de Honra. Terminaram com a língua de fora.

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