Entrevista exclusiva do Jornalisando com o Mascarado da Bahia

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Ele que se livrou das pedras, mas não de reações e palavras que as vezes doem mais que um apedrejamento.

Por Edinei Dantas

Quem nunca viu perambulando pelas ruas da cidade um cidadão que poderia ser até cidadã, fantasiado dos pés à cabeça, com trapos e ferros contorcidos? O artista performático conhecido como Jayme Figura, um dos personagens folclóricos da capital baiana, em especial, do Centro Histórico de Salvador, concedeu entrevista exclusiva ao site Jornalisando.com, na tarde desta segunda-feira (27), enquanto visitava a Casa Civil da Prefeitura em busca de emprego para seu filho, quando se deparou com o Jornalista Edinei Dantas.

Jayme quase nunca deixa ser visto sem a máscara, e por isso não nos permitiu o fotografar mostrando sua face comum, de homem batalhador, semblante descaído das surras que a vida já deu, mas sem perder a força e a esperança.

Sem o traje ele se chama Jaime Andrade Almeida, nem lembrava quantos anos tinha, mas sabia que havia nascido em 02 de janeiro de 1959, pediu para fazermos os cálculos, fizemos, ele tem 56 anos. Mora em Sussuarana onde não encontrou a paz que buscava quando saiu de seu bairro natal, Fazenda Grande do Retiro. Foi lá que há 38 anos sofreu com os problemas que originaram o Jayme Figura, em 1977.

Segundo ele, era um desenhista e publicitário bem sucedido, trabalhava numa empresa que lhe pagava cerca de 15 salários mínimos, vivia bem, tinha carro, mas costumeiramente era importunado pela vizinhança que pedia de tudo a toda hora, até para assisti TV em sua casa. Em dado momento começou a negar gerando a ira de alguns vizinhos que o emboscaram e machucaram muito seu o rosto e, a fim de esconder as feridas, passou a usar máscaras.


Porém os problemas de Jayme só estavam começando. Neste período a esposa sofreu um AVC e passou a agir de forma agressiva em casa, só acalmando após várias internações. Dona Maria vive com ele ainda hoje. Jayme Figura foi vítima também do Plano Collor que teria raspado sua poupança financeira.

Jayme se tornou artista plástico, pintor e passou a perambular nas ruas da capital baiana, mascarado, mas ao contrário do que muitos podem pensar, ele não anda por andar. Sempre que é visto está indo cumprir algum objetivo, fazer compras, palestrar em universidades, além de coletar materiais para suas obras de arte, etc. Durantes estas caminhadas ele era muito agredido por pedradas e insultos até que teve a ideia de frequentar a Mercouros, na Ladeira do Taboão, onde pegava restos de couros e completava com artigos de metal para compor sua armadura protetora. Se livrou das pedras, mas não de reações e palavras que as vezes doem mais que um apedrejamento.

De repente o celular toca, era o de Jayme, que conversa com a esposa quebrando um pouco a rusticidade de sua imagem, com a modernidade de um smarthphone. Jaime tem três filhos, dois aqui no Brasil com sua esposa e uma menina na Colômbia.

“Pois é, uma Colombiana meio riponga se encantou com meus trajes e se abriu, eu tive que comparecer. Há 17 anos fiz minha filha em uma lona crua que posteriormente pintei e vendi para o Mercado Modelo. Ela pode ser vista na lateral do Mercado na direção da Caixa Econômica. A menina mora com a mãe na Colômbia”, revela ele, dando um de seus raros sorrisos.

Jayme Figura ainda sofreu uma grande perda recentemente. Há cerca de um ano teve seu ateliê, que teria sido cedido nos idos de 1979, pelo então governador Antônio Carlos Magalhães. “Levaram tudo, até hoje eu luto para reaver minhas coisinhas. Só consegui comprar o essencial para continuar meu trabalho, uma marreta, uma chave de trava e uma serralheira”, lamentou ele, pois os bandidos ainda não foram encontrados.

Em sua rotina Jayme revela que só tira a roupa para dormir, e que, para a “inhaca”, como ele mesmo diz, não ficar no colchão, todos os dias toma banho várias vezes com sabão neutro, sabonete e xampu antes de se deitar.

Jayme revelou ainda outras novidades de sua vida. Ele é vocalista de uma banda de Rock chamada The Farpa e vai lançar sua biografia autorizada em breve. Espero que o Jornalisando não tenha estragado as surpresas do livro. “Amigos estão em São Paulo pesquisando uma editora legal para lançarmos a minha biografia que já está pronta. Enquanto isso, vendo DVDs falando sobre minhas obras para sobreviver”, disse ele, que comeu uma penca de banana para esquecer a fome e disse que iria almoçar com os R$ 20,00 que demos na compra de um DVD.

Precavido, Jayme tem um caixão em seu ateliê, onde dorme quando não vai para casa. “Já dormi lá até com a colombiana. A história é a seguinte, eu era muito ameaçado, minha família não tem dinheiro, aproveitei um dinheirinho sobrando e comprei o caixão para quando eu morrer já terem onde me colocar”, contou.

Encerrando a entrevista foi inevitável questionar a Jayme sobre duas paixões, religião e futebol. É fácil saber qual o time que ele torce, pois na altura do peito ele estampa na fantasia dois escudos do Bahia, um em cima do outros. Porém ele não costuma ir ao estádio por medo de voltar a ser hostilizado.

Jayme é aposentado por invalidez, segundo ele a doença é insônia. Seu salário gira em torno de 700 reais.

Sobre religião outra surpresa, ele se considera católico, mas de vez em quando frequenta a Igreja Adventista de Pau da Lima. “Gosto muito de lá e vou trajado de Jayme Figura, me sento na frente, tiro a máscara para assistir ao culto e quando tenho que olhar para trás coloco a máscara novamente”, finalizou ele, voltando à sua prática preferida, pisar às ruas da cidade calçando um cansado coturno da Polícia Militar que um soldado o presenteou quando ainda estava bom para uso.


Conheça parte do trabalho de Jayme Figura pela internet no site jaymefygura.wordpress.com ou visite o ateliê na subida da Ladeira do Carmo.

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