[Pmba em notícias] PM vai aumentar efetivo em Pituaçu após denúncias contra flanelinhas
Horas antes de o Bahia entrar no gramado do Estádio de Pituaçu, um time de chatos já começa a atazanar a vida dos torcedores. São guardadores de carros clandestinos.
Os famosos flanelinhas jogam no ataque em busca de dinheiro e, segundo relatos de tricolores, têm se multiplicado com mais rapidez que os pontos do time no segundo turno do Brasileirão. Vítimas de extorsões e ameaças, alguns tricolores resolveram denunciar os abusos e a Polícia Militar prometeu agir.
Ultimamente, esse insistente adversário joga mais duro na área do Centro Administrativo da Bahia (CAB). Mas, eles também atuam em boa parte da Avenida Pinto de Aguiar, nas proximidades da loja Ferreira Costa e até mesmo na Avenida Paralela.
O primeiro torcedor a se manifestar contra as extorsões foi o assistente financeiro Fábio Pimenta, que direcionou mensagem a vários jornalistas. De acordo com seu relato, na última partida, contra o Botafogo, os flanelinhas chegaram a bloquear por conta própria as ruas que ficam atrás dos prédios da Embasa e da Secretaria Estadual da Agricultura (Seagri).
O rapaz ficou revoltado com o fato de clandestinos estarem impedindo a passagem dos carros sem que a PM coibisse a ação. “Nesse último jogo pude presenciar que muitos flanelinhas estão impedindo a passagem de quem se recusa a pagar, colocando cavaletes nas entradas dos estacionamentos. Colocam até aquelas fitas de isolamento”.
No Twitter, um torcedor que se identifica como Paulo Sérgio afirma que pagou um preço alto por se negar a pagar as ‘taxas’ cobradas pelos flanelinhas. “Eu sou uma vítima. O meu carro, só neste ano, já está riscado nas duas laterais por não ter pago”, afirmou.
Polícia
As manifestações dos torcedores chamaram a atenção da Polícia Militar. O major César de Oliveira Castro, comandante da 82ª CIMP, prometeu tomar providências. “Houve uma crítica geral de torcedores extorquidos ou ameaçados por flanelinhas. Vamos levar o problema ao conhecimento das nossas patrulhas e intensificar o policiamento na área do CAB”, garantiu.
Segundo Castro, qualquer torcedor que seja ameaçado, extorquido ou se sinta inseguro por conta da ação de guardadores pode procurar imediatamente a polícia. “Cabe ao torcedor denunciar”. De acordo com o comandante, 25 homens são colocados para fazer a segurança na região do CAB durante as partidas. “Alguns com viatura e outros com motocicleta”, explicou.
César Castro ressalta, porém, que a PM não vai coibir a atividade dos guardadores. “Eles podem trabalhar, porque não é a polícia que fiscaliza essa atividade, mas a partir do momento que cometem extorção e ameaça, aí a gente tem que entrar”.
Canteiro
São vários os fatores que favorecem a ação de guardadores clandestinos em Pituaçu, inclusive a falta de estrutura para receber milhares de veículos. De acordo com a PM, a Transalvador enviou à corporação um ofício solicitando apoio para a utilização do canteiro central da Paralela como estacionamento.
O canteiro seria fiscalizado por prepostos do Sindicato dos Guardadores de Veículos da Bahia (Sindiguarda), nos moldes da Zona Azul. Seria cobrado R$ 5 por cada veículo e a ação já valeria para o próximo jogo, contra o Fluminense, na quarta-feira que vem, dia 10.
“A PM considera boa a ideia e espera que isso minimize os problemas”, afirmou Castro. Às 19h30 de ontem, o CORREIO conseguiu contato com o titular da Transalvador, Renato Araújo, que afirmou que não concederia entrevista.
A ação criminosa de flanelinhas está longe de ser um problema apenas do Estádio de Pituaçu. Basta tentar parar o veículo em bairros como Rio Vermelho, Comércio, Pituba, Campo Grande e no Centro.
Os flanelinhas atuam perto de bares, teatros e, principalmente, nas imediações das casas de show. Em geral, agem de forma arbitrária. Ameaças, extorsões e até danos nos veículos são comuns.
Diante disso, o comando da PM informou que as garantias da 82ª CIPM valem para toda a cidade. Ou seja, qualquer cidadão deve chamar a polícia em caso de abusos. “A partir do momento que a atuação de um guardador se dá de forma delituosa podem nos chamar, até mesmo pelo 190”, disse o assessor de comunicação da PM, capitão Marcelo Pita.
Guardados chegam a 4 mil no Verão
Há uma lei federal, a 6.242/75, que dispõe sobre o exercício da profissão de guardador e lavador autônomo de veículos automotores. De acordo com a lei, só pode explorar a atividade o profissional que estiver devidamente registrado na Delegacia Regional do Trabalho (DRT) e não possuir antecedente criminal.
A lei determina ainda que a concessão do registro só será feita mediante a apresentação de documento de identidade, atestado de bons antecedentes, certidão negativa dos cartórios criminais do domicílio do interessado e prova de quitação eleitoral e com o serviço militar.
A estimativa do Sindicato dos Guardadores de Veículos da Bahia (Sindiguarda), que tem mais de 2 mil trabalhadores regulamentados, é de que outros 2 mil atuem clandestinamente. Mas esse número dobraria na alta estação. Estima-se que 4 mil guardadores clandestinos entrarão em atividade durante o Verão.
“O sindicato não compactua com isso. Os verdadeiros guardadores de carro são agentes que contribuem, inclusive, para a segurança pública”, diz o presidente do Sindiguarda, Melquisedeque de Souza.
Uma das soluções apontadas pelo Sindiguarda é a ampliação da chamada Zona Azul, que hoje dispõe de mais de 5 mil vagas em Salvador. As zonas azuis são áreas de estacionamento de responsabilidade da prefeitura, com fiscalização de agentes regulamentados pelo próprio sindicato. Ontem, o superintendente da Transalvador, Renato Araújo, não quis conversar com o CORREIO.
De qualquer forma, independente da iniciativa da PM em coibir ações criminosas de guardadores, na prática é difícil combater o problema. Muitas vezes, bandidos se disfarçam de flanelinhas para atuar. Um exemplo que ganhou o noticiário envolveu o jogador Victor Ramos, zagueiro do Vitória.
Em julho, ele teve uma corrente de ouro roubada por um homem que se aproximou do seu veículo oferecendo vaga. Bastou Victor abrir um pouco o vidro para que o homem levasse seu acessório de R$ 10 mil.
Nem todo flanelinha é malvisto por motoristas
Você entregaria as chaves do seu carro a um flanelinha? E mais. Deixaria ele dirigir seu veículo? Pois é o que acontece com frequência na rua da Polônia, no Comércio. Se para a maioria dos motoristas, guardador é sinônimo de aborrecimento e, em alguns casos, coisa bem pior, as exceções estão por aí.
Naquele pedaço da capital baiana, Altamiro Rangel, o Miro, é visto como um homem prestativo e de total confiança. Querido pelos “clientes”, Miro exibe com orgulho o molho de chaves de carros entregues a ele pelos motoristas. “O que eu deixo no carro, encontro quando volto”, confirma a advogada Déa Dias Rocha, 27 anos.
Mas há um pequeno segredo para conquistar a confiança das pessoas. “Em primeiro lugar, não cobro um centavo. O que puder dar, a gente recebe com carinho. Não sou o dono da rua”, ensina Miro.
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