Suicídio deve ser discutido na mídia, diz psiquiatra
Dois casos de suicídio foram registrados em Salvador, na última sexta-feira (27), entre eles, o de um oficial da Polícia Militar. A imprensa evita noticiar tais acontecimentos a partir da teoria de que, quanto mais divulgados, mais casos acontecem.
Em entrevista à reportagem do Bocão News, o psiquiatra André Brasil, presidente da Associação Psiquiátrica da Bahia (APB) e diretor secretário da região nordeste da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), contesta a afirmação.
"Não há comprovação dessa teoria. Na verdade as pessoas não se influenciam por notícia de suicídio na mídia. O fato de saber de um suicídio não será o gatilho".
A cartilha lançada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em 2014, também informa - na página 14, onde trata dos 'mitos sobre suicídio' -, que "a mídia tem obrigação social de tratar desse importante assunto de saúde pública e abordar esse tema de forma adequada. Isto não aumenta o risco de uma pessoa se matar; ao contrário, é fundamental dar informações à população sobre o problema, onde buscar ajuda etc".
O especialista orienta os veículos de imprensa sobre a responsabilidade de informar as situações envolvendo suicídio de forma correta. "A imprensa tem que saber noticiar de modo correto a notícia, utilizando sempre um especialista para orientar a informação, porque por trás do suicídio existe sempre uma doença psiquiatrica muito grande, que leva a pessoa a tomar essa decisão extrema. A notícia tem passar por um tratamento especial sem expor muito a vítima e a família", aconselha.
Segundo André Brasil, quem comete suicidio tem problemas psiquiátricos. Tais pessoas possuem um quadro de depressão e muitas vezes vivem normalmente. Porém, a partir de algum fato inesperado, toma a decisão de colocar fim na própria vida. Mas também este indivíduo pode não estar sendo tratado de modo adequada, estar sem ajuda profissional.
Gatilhos: segundo o especialista, não há como listar os possíveis gatilhos para uma pessoa praticar o suicídio, mas as pioras de uma quadro basal psquiátrico, podem ser um dos fatores da decisão. "Um dos exemplos, são as pioras do quadro de depressão. O gatilho varia de pessoa para a pessoa, pois o próprio perfil depressivo é muito variável. Mas defintivamente a notícia de um suicídio não será o gatilho", analisa. O psiquiatra ainda avalia que, "em grande parte, o suicídio está ligado à depressão e/ou à dependência química, também atrelado a algumas doenças crônicas que geram depressão, a exemplo do câncer".
Picos nas ocorrências: "Temos percebido em alguns momentos uns picos nas ocorrências de suicídios. Os períodos de festividades tendem a ter numeros maiores que o habitual. Comemorações como o Natal, Réveillon, Semana Santa, que mexem mais com a emoção, são festividades em que mais acontecem essas ocorrências", conta André Brasil.
Profissões na zona de risco: Para o psiquiatra, o tipo de profissão pode influenciar em quadros depressivos e, por consequência, no suicídio, devido à carga de estresse sobre tais profissionais.
"Sobre os casos desse fim de semana, que tem em uma das vítimas um policial militar, é uma trágica coincidência. Porém, isso serve de alerta, porque algumas profissões são mais propensas a cometer suicídio que outras, a exemplo de policiais, bancários, médicos, jornalistas, estas são algumas das profissões que devem ter foco na prevenção", informa.
Cuidados e prevenção: Um problema que tem como único remédio a prenvenção. Segundo o psiquiatra, alguns sinais a serem percebidos em pessoas com risco suicida devem ser observados a partir de sintomas depressivos, como: comportamento retraído, isolado, discurso triste e negativo e comportamento pessimista.
"Esses são sinais de que a pessoa já deve ser encaminhada ao psiquiatra. A família tem que tomar a frente e levar ao profissional, mesmo que a pessoa seja resistente, leve assim mesmo", orienta.
De acordo com dados do Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde, 12 mil suicídios são cometidos por ano no Brasil. Segundo o major Ramon Dieggo, comandate do 3º Grupamento de Bombeiros Militares (GBM) da Bahia, são feitos atendimentos deste tipo de ocorrência quase que diariamente em Salvador e Região Metropolitana (RMS). Por volta das 5h30 deste domingo (29), um homem tentou se jogar de uma torre de energia de 30 metros, na região do Centro Administrativo da Bahia (CAB). A equipe do 3º GBM conseguiu evitar o suicídio.
O psiquitra André Brasil enfatiza que "cuidar do suicídio é prevenir, principalmente abordando, falando sobre o problema". O CFM e a ABP, realizam no mês de setembro a campanha "Setembro Amarelo", que trata da prevenção ao suicídio e tem como objetivo coincientizar a população. "Queremos dizer que o suicídio tem prevenção e não podemos ter medo de falar sobre o assunto", finaliza o especialista.
A cartilha "informando para prevenir" está disponível na internet pode ser assessada clicando aqui.
Matéria d Bocão News...
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