Sete características de uma redação com nota 10 em concursos
É comum a ideia de que, para
merecer a nota máxima, o texto precisa ser extraordinário, primoroso,
beirando a qualidade de uma obra artística, diz o professor de português
Diogo Arrais, autor gramatical pela Editora Saraiva. É bem o contrário:
quanto mais descomplicado ele for, maior sua chance de sucesso.
A
melhor estratégia é pensar que você está escrevendo para um leitor de
10 anos de idade, sugere Luciane Sartori, professora de redação da LFG.
“Deixe tudo muito claro, fácil de ler e bem explicado”, orienta.
Também
é essencial satisfazer as exigências específicas de cada banca
avaliadora. Uma redação que atende às instruções do concurso já tem
garantida boa parte da sua nota.
Não
que seja obrigatório tirar 10: segundo Sartori, 8 ou 7 já bastam para
que o candidato seja aprovado na maioria dos concursos. Receber a nota
máxima não é impossível, mas é raro.
De
qualquer modo, é importante conhecer as características que diferenciam
um texto bem avaliado. Confira a seguir algumas delas, segundo os
especialistas ouvidos por EXAME.com:
1. Contém as palavras-chave do tema
Pode
parecer óbvio, mas muita gente perde pontos na redação porque se
esquecer de usar expressões e termos que pertencem ao campo semântico da
área. “Se o assunto é nutrição, por exemplo, você precisará empregar
palavras como ‘fibras’, ‘colesterol’, ‘enzima’, ‘digestão’”, explica
Arrais.
O mesmo
vale para as principais referências bibliográficas da área. Ao citar
autores, você mostra que conhece bem a disciplina e sabe do que está
falando.
2. Não foge ao assunto (e nem ao “problema”)
Todos
os candidatos com nota máxima na redação têm um ponto em comum: eles
leram atentamente à proposta da banca. Quem se afasta do tema costuma
perder 50% da nota, segundo Sartori. O texto ideal não contém digressões
nem rodeios: ele trata diretamente dos tópicos pedidos.
Também
é fundamental não se esquivar do “problema” apresentado pelos
examinadores. É preciso oferecer algum tipo de solução a ele na
conclusão do seu texto. “Sempre proponha algo para sanar aquele
conflito, com base em princípios éticos e humanistas”, afirma Arrais.
3. Tem letra legível
Pode
parecer bobagem, mas a letra do candidato conta (e muito) para a
avaliação final. Além de uma grafia clara, também é fundamental
respeitar as margens da folha e respeitar o espaço do parágrafo.
De
acordo com Sartori, a apresentação visual do texto costuma valer 10% da
nota. É fácil entender: diante de uma grande pilha de textos para
corrigir em pouco tempo, o avaliador naturalmente vai preferir aqueles
que são mais agradáveis à leitura.
4. Tem uma sequência lógica
Aspectos
estruturais também são muito importantes. A dissertação deve ter uma
sequência lógica, com começo (tese), meio (desenvolvimento) e fim
(conclusão). “Organizar o seu raciocínio nesses moldes garante coesão e
coerência, dois critérios básicos para a correção de uma prova escrita”,
diz Sartori.
Também
vale lembrar que os seus argumentos devem estar bem amarrados entre si
por meio dos chamados “conectores” — palavras ou frases que ajudam a
criar relações entre as ideias, tais como “apesar de”, “por outro lado”,
“até mesmo” e “por consequência”.
5. Não tem erros de português
Atender
rigorosamente à norma culta da língua é obrigatório para garantir uma
boa nota em qualquer tipo de questão escrita. Que dirá na redação. “Até
os menores erros de português fazem as bancas de concurso rebaixarem a
pontuação do candidato”, diz Arrais.
Concordância,
ortografia, acentuação, colocação pronominal e diversos outros tópicos
gramaticais precisam estar em ordem para que a redação mereça a nota
máxima. É preciso estudar com afinco a gramática exigida nos exames —
até porque ela tem pouco a ver com a língua falada no Brasil, afirma o
professor.
6. Está livre de “paixões”
Especialmente
em tempos de polarização ideológica e discussões acirradas nas redes
sociais, a moderação é uma qualidade muito valorizada numa redação de
concurso.
Um texto
que merece 10 tem um tom objetivo, pouco afetado por emoções. “Imagine a
redação como uma entrevista de emprego por escrito”, afirma Arrais.
“Numa situação assim, não faz sentido você chorar, gritar ou esbravejar
contra o que quer que seja”.
7. Demonstra autonomia de pensamento
Clichês,
frases prontas e ditados populares não são proibidos numa redação de
concurso, mas não devem ser usados como ferramentas de argumentação. “Só
faz sentido usar se forem muito úteis ou significativos naquele
contexto”, afirma Sartori. De forma geral, é melhor formular as suas
próprias construções.
Frases
genéricas, vagas ou muito batidas — que se confundem com o senso comum —
transmitem insegurança no assunto. “A precisão, a especificidade e a
originalidade das ideias são valores essenciais para a redação”, diz
Arrais. “Você precisa mostrar que domina aquele tema e é capaz de opinar
sobre ele de forma independente”.
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