O dia em que o Exército matou PMs Resumo do evento histórico e um apelo aos músicos brasileiros.
O dia em que o Exército matou PMs
Resumo do evento histórico e um apelo aos músicos brasileiros.
Cap PMBA Emmanoel Almeida.
Nesta quinta-feira (10jan19) se completam 107 anos do evento histórico, pouco falado, que resultou na morte de dezenas de cidadãos e PMs baianos: o Bombardeio da Bahia.
Numa desavença política entre o Presidente da República ( Marechal Hermes da Fonseca ) e o Governador da Bahia ( Aurélio Viana ), o Exército Brasileiro, liderado pelo General José Sotero de Menezes (Cmt da 7ª RM), seguindo ordem do Presidente, bombardeou Salvador. Em função já das ameaças federais, a capital do estado foi transferida para a cidade Jequié, interior da Bahia. O Fortes de Salvador, que deveriam defender a cidade, dispararam seus canhões sobre ela, destruindo edificações históricas, matando cidadãos e causando um dos maiores prejuízos culturais brasileiros: a destruição (pelos tiros do Forte São Marcelo) da Biblioteca Pública (fundada em 1811), sediada no Palácio do Governo (primeira sede do governo do Brasil, em 1549). Neste episódio, o Exército Brasileiro enfrentou a PMBA, dizimou PMs, e ocupou o Centro de Salvador. Por quatro horas, o Quartel da PM nos Barris foi severamente atingido (por tiros do Forte de São Pedro), tendo ceifada a vida de vários policiais da Corporação. O Forte do Barbalho também foi usado em outros ataques. Combates entre os militares foram travados na Praça Castro Alves e no Campo Grande. Dois dias depois, o Governador abandonou o Governo e fugiu para a França.
Enfim, o Presidente alcançou seu desiderato: desconsiderando todos os impedimentos legais (denunciados, inclusive por Ruy Barbosa), fez seu apadrinhado J. J. Seabra Governador da Bahia. Em desacordo ao Bombardeio da Bahia, o então Ministro da Marinha, Almirante Joaquim Marques Batista Leão, renunciou ao cargo. O Diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, considerado Patrono da Diplomacia Brasileira, faleceu um mês depois do Bombardeio, lamentando-se em seus últimos instantes de vida, pela morte dos baianos no bombardeio a Salvador. Esse é um evento de grande desonra para os baianos, e para os brasileiros. Autofagia: a briga política resultou no conflito entre Exército e PM.
Para comemorar a vitória do Marechal, o Sargento do Exército Antônio Manuel do Espírito Santo, subordinado do General Sotero de Menezes que comandou os ataques, compôs o dobrado Bombardeio da Bahia. Em seu início, o ataque dos trompetes tenta simular os disparos sequenciados de tiros; e o som dos tiros dos canhões e das granadas também são reproduzidos durante sua execução.
Sem avaliar essas circunstâncias históricas, incautelosamente, várias Bandas de Músicas executam pelo país inteiro este infeliz dobrado em solenidades cívico-militares, reproduzindo e exaltando, mesmo sem intenção, a desmoralização desse evento histórico. Não se pode permitir tal blasfêmia aos baianos e, consequentemente, aos brasileiros. Muito embora o baiano Sargento Espírito Santo tenha sido, quiçá, o maior e mais grandioso autor de canções militares do Brasil, tendo sido ele, inclusive, o autor do belíssimo Dobrado Sargento Calhau, composto em homenagem a um militar do Exército, em 1910, ao qual foi posteriormente inserida letra, e rebatizado de Canção Cisne Branco: atual Hino da Marinha do Brasil.
O espírito de conflito (entre as Forças Federal e Estadual) presente nesse momento pontual histórico do Brasil foi superado logo após os acontecimentos, e já há muitas décadas, os brasileiros desfrutam de total harmonia nas relações institucionais entre as Forças envolvidas neste infeliz episódio. Realmente é um acontecimento ruim de se falar, mas é preciso; razão pela qual poucos estudos e não muitos dados se têm sobre ele. Tal embate entre militares federais e estaduais nada tem a ver com a atual parceria entre o Exército e PM da Bahia. Ou seja: todos concordam que esse conflito está no passado.
Esta reflexão nasceu de uma conversa entre mim e um amigo, o Maj PMBA Müller, quando discorríamos sobre dobrados: uma paixão em comum. E é nessa toada, de estudo sobre nossos símbolos e valores, e de que esse evento deve permanecer no pretérito, que peço neste momento a todos os músicos do Brasil que retirem de suas partituras o dobrado Bombardeio da Bahia. Por favor, Bandas de Música da Marinha, Exército, Aeronáutica, Polícias Militares, Guardas Municipais, Corpos de Bombeiros Militares, Colégios Militares, Escolas de Música, Conservatórios, Fanfarras, etc, não se seduzam pelos trompetes deste dobrado, e não executem esta canção. Que este dia jamais seja comemorado em solo brasileiro. Fica aqui, sim, nossa lembrança respeitosa, e nossa homenagem a todos os policiais mortos neste episódio, pela bravura, por terem sacrificado suas vidas, e a outros que foram atingidos de surpresa e não tiveram como se defender dos ataques federais.
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